Gaia, Urano, Cronos e Reia

Tabela de conteúdos (Índice)

Gaia #

Segundo Hesíodo, o primeiro deus da mitologia grega é o Caos. Sua natureza divina é de difícil entendimento. Não era uma pessoa, mas um abismo sem luz.
É desse caos que nasce a deusa Gaia, a mãe-terra, que representa o lugar aonde a vida é possível. Gaia foi a ordenadora do Cosmos, que acabou com a desordem e criou a harmonia. A deusa personifica a fertilidade, a vida e a renovação constante do mundo.
É retratada como uma figura materna que simboliza a terra como uma força viva, criativa. Remete também à cuidado e nutrição. Para Jung, representa o arquétipo do divino feminino.
Gaia gerou Urano, desejosa de ter alguém que a cobrisse. Os dois se tornaram amantes e geraram os doze titãs.

Urano #

Urano era uma das divindades primordiais da mitologia grega, personificando o céu estrelado, o domínio celeste. Gaia deu origem a Urano de forma espontânea, sem um parceiro divino. Juntos, eles geraram os doze titãs.
Urano tinha o dom da profecia e sabia que seria destronado por um de seus filhos. Sendo assim ele não permitia que eles deixassem o útero de Gaia. Era visto como um deus autoritário e ciumento, que aprisionou seus filhos (os titãs) na terra (Gaia).
Revoltada, a deusa pediu ajuda aos filhos. Apenas o caçula, Cronos, aceitou bolar um plano com a mãe. Gaia deu a ele uma foice de aço, com a qual Cronos castrou o próprio pai e libertou os irmãos. Isso é chamado de “a dolorosa separação entre o céu e a terra”. Essa é uma história que se repete em diferentes culturas. Na mitologia Geb (deus da terra) e Nut (deusa dos céus) também foram separados à força. Na mitologia sumérica, Tiamat, tida como a mãe dos elementos e também do caos, foi cortada ao meio por Marduk, criando assim céu e terra.
Urano e Gaia personificam a união do céu e da terra, refletindo a concepção grega de como o mundo foi criado a partir da interação entre esses elementos fundamentais. Na teoria dos arquétipos de Jung a figura de Urano pode se encaixar a do pai celestial, que representa autoridade e poder.

Cronos #

Cronos era filho dos deuses primordiais, Gaia e Urano. Seu pai temia ser destronado pelos filhos (e sabia que era o que sucederia, já que tinha o dom da profecia) e os mantinha presos no útero da mãe. Foi Cronos que, com uma foice dada por Gaia, castrou o próprio pai e libertou-se.
Dessa forma nasce o tempo, é ele quem abre o tempo/espaço, portando cria também a mortalidade e a finalidade. Cronos é o ceifador implacável; assim como o tempo “acaba” com todas as coisas. Em grego, Kronos significa tempo. Geralmente é representado como um homem idoso e barbudo, carregando uma foice ou uma ampulheta.
Vencedor do pai, ele se tornou o senhor todo-poderoso do universo. Mas, preferindo reinar sozinho, deixou os irmãos aprisionados nas profundezas do Tártaro. Libertou apenas Reia, com quem teve seis filhos.
Gaia, furiosa com o filho, amaldiçoou-o a ter o mesmo fim do pai, e ser deposto do trono por um de seus filhos. Temeroso, Cronos fez como o pai, dando um jeito de eliminar os filhos. Cada vez que um deles nascia, Cronos os devorava. Isso ocorreu com cinco primeiros recém-nascidos. Foi apenas com o último (também o caçula, Zeus) que a situação mudou (mais detalhes no post sobre Zeus).

⇢ Cronos representa o arquétipo do pai devorador, uma figura paterna opressora e dominadora, capaz de sufocar o desenvolvimento dos filhos.
⇢ O titã tinha receio de que fizessem com ele o mesmo que tinha feito ao pai. Isso nos leva a refletir sobre como o que tememos nos outros é exatamente o que existe em nós (o que Jung chama de sombra).
⇢ Na Grécia Antiga, havia um festival chamado “Cronia” em homenagem a Cronos. Durante esse festival, escravos e mestres trocavam de lugar temporariamente.

Reia #

Reia é a uma titã que possui forte relação com a fertilidade e com a terra, assim como a mãe, Gaia. É a mãe dos deuses. Gerou, com Cronos, nesta ordem: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon e Zeus.
Ela representa a força materna protetora. É frequentemente retratada segurando uma cornucópia (um chifre da abundância) ou uma tocha, que simbolizava sua conexão com a fertilidade e a luz.
Seu marido, Cronos, já havia devorado cinco de seus filhos. Inconformada, Reia pede um conselho a Gaia (sua mãe) e age de acordo.
Quando sexto bebê nasceu, a titânide deu a ele não a criança, mas uma pedra enrolada em panos. O plano deu certo, e o titã devorou a pedra.
Reia levou o bebê, que era Zeus, para a ilha de Creta. Escondeu-o em uma caverna, onde ele pôde crescer e liderar uma revolta contra o pai.
Alguns textos falam dela não como uma deusa virgem e casta, mas de um lado feminino mais livre e extático, um aspecto sexual bem mais aflorado.
Na mitologia romana ela foi relacionada à Cibele, a “Magna Mater”. Era adorada como deusa da fertilidade e seus cultos envolviam orgias. Era uma mãe, mas com um lado bem mais caótico.

⇢ Os mitos indígenas cretas do povo minoico e gregos se misturaram após a invasão da ilha. Uma das divindades minoicas era uma grande deusa mãe que teve um filho divino em uma caverna, que virou um local sagrado e ninguém podia entrar. Uma vez por ano um brilho intenso saía de lá, quando o sangue do nascimento da criança divina jorrava. Essa criança transformava-se num jovem kouros, semi-deus que trazia fertilidade e sorte. O povo grego dórico deu a esse jovem o nome do seu próprio Deus supremo, Zeus, e aquela caverna é onde Raia o teria escondido de Cronos.

Desenvolvido por BetterDocs

Deixe um comentário